Presidente turco disse que EUA deveriam deportar ou entregar clérigo.
Fatullah Gulen é suspeito de organizar golpe para tomar o poder na Turquia.
O secretário de Estado americano, John Kerry, pediu neste sábado (16) que a Turquia apresente provas de que o clérigo Fetullah Gullen, residente nos Estados Unidos, seja o responsável pela tentativa de golpe de Estado na noite da última sexta-feira (15). O confronto entre as Forças Armadas e parte da população deixou 265 mortos – 161 civis e 104 militares contrários ao governo de Recep Tayyip Erdogan.
Erdogan havia pedido aos Estados Unidos que extraditassem Gulen, acusado de ter organizado o golpe. “Ou vocês deportam Gulen ou o entregam para nós”, afirmou o presidente em pronunciamento dado neste sábado. Ele também disse que depois da extradição do “mentor do terror”, “muita coisa irá mudar na Turquia”.
Kerry, que estava em visita oficial a Luxemburgo, mostrou seu apoio ao governo turco após o golpe fracassado, mas pediu que Erdogan compartilhe provas do envolvimento de Gulen com os serviços de inteligência americanos, de acordo com os jornais locais “Luxemburguer Wort” e “Tageblatt”.
“Não recebemos nenhum pedido do governo turco sobre a extradição de Gülen por enquanto, mas esperamos que haja perguntas”, indicou o chefe de diplomacia americana à imprensa de Luxemburgo.
O secretário de Estado, que falou com os jornalistas depois de se reunir com o ministro das Relações Exteriores de Luxemburgo, Jean Asselborn, disse que “convidará, como sempre faz, ao governo turco que compartilhe qualquer tipo de informação legítima que receber”.
O governo da Turquia criticou abertamente os EUA por abrigarem Gulen, considerado como o responsável pelo golpe. Mais cedo, Obama havia dito que colaboraria com as investigações, mas que os Estados Unidos precisariam de provas. A Casa Branca divulgou, inclusive, um comunicado sobre o assunto: “O presidente (Obama) e sua equipe lamentam a perda de vidas humanas e destacam a necessidade vital para todas as partes na Turquia de agir respeitando o Estado de direito e evitar qualquer ação que possa gerar novos episódios de violência ou instabilidade.”
Gulen, de 75 anos, já foi aliado de Erdogan e atualmente vive na Pensilvânia. Ele foi exilado nos Estados Unidos em 1999, depois de ter sido acusado de traição na Turquia. Ele lidera o Hizmet, movimento político-religioso que se mantém crítico ao regime de Erdogan.
O clérigo nega envolvimento na tentativa de golpe ocorrida na última sexta (15). “Como alguém que sofreu múltiplos golpes militares durante as últimas cinco décadas, é especialmente insultante ser acusado de ter alguma relação com esta tentativa”, afirmou, em comunicado divulgado na última madrugada. “Nunca enxerguem uma intervenção militar como algo positivo, a democracia não pode ser alcançada dessa forma”, afirmou Gulen à população turca.
Quase 3 mil magistrados foram afastados por provável ligação com o clérigo.
Militares afastados
As autoridades turcas detiveram neste sábado (16) o comandante do Segundo Exército, relacionado à tentativa de golpe militar, informou a agência de notícias Anadolu.
O general Adem Huduti é o oficial mais graduado a ser apreendido até o momento, após a tentativa de intervenção que matou mais de 160 pessoas. O Segundo Exército, com sede em Malatya, protege as fronteiras da Turquia com a Síria, o Iraque e o Irã.
Outras reformulações também foram feitas pelo presidente. Erdogan já plenejava, há muito tempo, afastar alguns militares do poder, segundo fontes. Após a tentativa de golpe, o presidente turco demitiu 5 generais, 29 coronéis e substituiu o chefe maior das Forças Armadas, capturado por militares rebeldes.
Embora a lei do país não preveja este tipo de punição, já se fala em pena de morte para os apoiadores do golpe.
Na noite em que tentaram derrubar o governo, militares de baixo e médio escalão bloquearam portos e pontes e usaram aviões de guerra para sobrevoar a cidade de Ancara. Sedes do veículo jornalístico CNN foram invadidas por homens armados. Um helicóptero atirava em pessoas comuns.
Durante a tentativa de golpe, o presidente Erdogan gravou um vídeo em que pedia apoio da população para conter o avanço dos militares. Enquanto isso, sobrevoava o país em um avião. Parte do povo acatou a ordem e saiu às ruas para defender o governo, enfrentando os militares. Tanques foram tomados pela multidão, que retirava à força os membros das Forças Armadas de seus blindados.
Após o confronto, que deixou mais de 1.400 feridos e 2.800 presos, alguns militares se renderam e pediram asilo político. Nesta manhã (16), ainda havia explosões e sinais de confronto no país.
Cronologia da tentativa de golpe
Às 23h (17h00 de Brasília) da última sexta (15), o primeiro-ministro turco Binali Yildirim denuncia uma “tentativa ilegal” de tomada do poder por um grupo dentro do exército, pouco tempo após o fechamento parcial das pontes sobre o Bósforo em Istambul.
Antes da meia-noite (18h de Brasília), um comunicado das “forças armadas turcas” anuncia a proclamação da lei marcial e um toque de recolher em todo o país, após a mobilização de tropas em Istambul e na capital Ancara. A declaração é assinada pelo “Conselho para a paz no país”, que diz ter “tomado o controle do país”.
Por volta do mesmo horário, grupos de monitoramento de internet diziam que o acesso aoFacebook, Twitter, YouTube e outras redes sociais foram restritos na Turquia.
Confrontos, com aviões e tanques, resultaram em cenas de violência em Ancara e Istambul. A violência foi travada entre os rebeldes e as forças legalistas, bem como dezenas de milhares de pessoas que saíram às ruas do país. Aviões de caça voavam a baixa altitude na metrópole, e o Parlamento foi alvo de uma série de ataques aéreos. Mais tarde, um avião lançou uma bomba perto do palácio presidencial.
O parlamento turco foi alvo de bombardeios militares e diversos carros foram destruídos durante a tentativa de golpe militar que resultou em 265 mortes, sendo 161 civis e 104 militares golpistas.