Presidente da Turquia declara que vai fechar todas as escolas militares
O fracassado golpe de Estado de 15 de julho revelou grandes falhas no serviço secreto turco, que agora começam a ficar mais evidentes. O Executivo de Recep Tayyip Erdogan divulgou neste sábado que sua agência de inteligência investigou por mais de dois anos as mensagens trocadas por meio de um aplicativo de comunicação instantânea por centenas de pessoas, integrantes, afirmam, da irmandade de Fetulá Gülen, que Ancara acusa de estar por trás do golpe. Erdogan anunciou neste sábado que promoverá uma reforma constitucional que fará com que tanto o chefe do Exército quanto o do serviço secreto fiquem submetidos a seu controle direto.
Erdogan declarou em entrevista à rede de TV A-Haber, relatada pela agência France Presse, que enviará ao Parlamento “um pequeno pacote constitucional”, que, se for aprovado, porá o principal responsável pela Organização Nacional de Inteligência e o pelas Forças Armadas sob as ordens da presidência. Também informou que fechará todas as escolas militares e que criará uma “universidade nacional militar”, como parte de uma ampla reorganização das Forças Armadas. Durante a entrevista, o presidente disse que Gülen é “somente um peão” e que há um “cérebro” verdadeiramente responsável pela intentona.
Os analistas não conseguiram prever o levante militar de 15 de julho a partir dessas mensagens criptografadas, transmitidas pelo aplicativo ByLock de 2014 a maio de 2016. Mas sua utilização, afirmam fontes do Executivo de Erdogan, revelou cerca de 40.000 “operadores ocultos” do que denominam “a Organização Terrorista Fetulá”. O Governo investiga o uso desse comunicador e afirma que os participantes da tentativa de golpe se comunicavam por meio desse aplicativo. Os participantes do serviço de mensagens, informou neste sábado o Governo turco após investigação publicada pelo jornal The Wall Street Journal, descobriram em maio que eram investigados e mudaram seu grupo para outro aplicativo de mensagens instantâneas, usado nos dias antes da rebelião.
Enquanto continuam as prisões e as represálias contra quem supostamente participou do golpe fracassado —neste sábado, por exemplo, um tribunal de Istambul emitiu ordem de prisão contra 17 jornalistas por sua alegada participação no levante— o Governo turco tomou neste sábado uma medida de distensão. As autoridades libertaram 758 soldados e 62 cadetes que estavam presos havia dias por sua suposta participação no motim, que resultou no expurgo de 66.000 pessoas, entre destituídos (cerca de 50.000) e presos (ao redor de 16.000).
O expurgo recebeu críticas da União Europeia e dos Estados Unidos, que Erdogan, em discurso inflamado na noite de sexta-feira, disse para não se envolverem. “O Ocidente ofereceu suas condolências e em seguida começou a mostrar sua preocupação a respeito das prisões e demissões. Intrometam-se em seus assuntos. Nenhum representante da União Europeia ou do Ocidente veio aqui para oferecer condolências”, disse o presidente. “Os que se colocaram na frente dos tanques escoltaram uma nova era. Nenhum país que se preocupe mais com o futuro dos golpistas do que com a democracia na Turquia pode ser nosso amigo. Devemos manter relações diplomáticas com eles, mas não há espaço para eles em nossos corações”, acrescentou.
Mas, para acalmar um pouco os ânimos, Erdogan anunciou que vai retirar todas as ações contra os acusados de tê-lo injuriado nos últimos meses. “De uma só vez vou perdoar e remover todos os casos contra as muitas faltas de respeito e ofensas contra minha pessoa”, declarou em entrevista na madrugada de sexta para sábado à rede CNNTürk. Cerca de 2.000 pessoas —de humoristas a jornalistas e personalidades— enfrentam ações por injúria contra o chefe de Estado nos dois anos de sua presidência, crime que pode levar a penas de até 5 anos e meio de prisão.