O que o bilionário que quer a Oi tem a ver com os refugiados

São Paulo – O bilionário egípcio Naguib Sawiris ganhou as manchetes nos jornais do Brasil hoje por se mostrar interessado em comprar a Oi, que entrou com pedido de recuperação judicial, com uma dívida de R$ 65,4 bilhões.

Mas, em setembro, o mesmo empresário estampava sites e jornais do mundo todo por um motivo mais nobre: ele havia anunciado a intenção de comprar uma ilha para abrigar as famílias dos refugiados, em meio ao caos da onda de fuga das pessoas para a Europa.

“Grécia ou a Itália, me vendam uma ilha e declarem sua independência para abrigar lá imigrantes e proporcionar trabalho no desenvolvimento do novo país”, escreveu ele em sua conta no Twitter, na época.

Segundo homem mais rico do Egito, com uma fortuna estimada em US$ 3 bilhões pela Forbes, Sawiris não concretizou o plano, para tristeza de quem via esperança em sua boa ação.

Aos 62 anos, o egípcio demonstra mais vontade de desbravar o mercado emergente de telefonia, além dos negócios que já possui.

Dono da estação de televisão ONTV, uma das maiores de seu país, ele adquiriu uma participação majoritária no canal de notícias francês Euronews no ano passado.

Na área de telecom, onde ele acumulou seus bilhões, detém o controle da Orascom Telecom Mídia e Tecnologia (OTMT), uma empresa de capital aberto no Cairo.

Possui ainda negócios da mesma linha no Líbano e Paquistão, mas deixou a área de telefonia celular no Egito há pouco tempo, com a venda das ações que detinha na Mobinil de Orange, anteriormente conhecida como France Telecom.

Na Coreia do Norte, a OTMT operava a única empresa de telecomunicações móveis 3G do país, a Koryolink, mas perdeu o controle sobre a operação depois de uma manobra do governo norte-coreano.

Investida no Brasil

Por aqui, Sawiris já havia mostrado interesse em adquirir uma participação na Oi, a operadora mais endividada do país. Hoje, no entanto, o bilionário deixou clara sua intenção.

“A Oi precisa de um acionista com uma sólida experiência em telecomunicações para resolver os seus problemas operacionais, além de cuidar de suas dívidas financeiras”, disse Sawiris em uma entrevista por telefone à Bloomberg.

Sawiris disse que uma fusão entre Oi e Tim faria “muito sentido”, mas que antes disso a Oi teria de conseguir caminhar sozinha.

De acordo com a agência, o plano dele era o de traçar uma parceria com o investidor russo Mikhail Fridman no negócio, sem detalhar de que forma isso aconteceria.

No ano passado, Fridman havia feito uma proposta de US$ 4 bilhões pela Oi, com a condição de que uma fusão com a Tim acontecesse.

Em fevereiro, depois da resistência da operadora italiana ao negócio, o fundo russo desistiu do negócio.

Urgência de capital

O pedido de recuperação judicial da Oi não foi bem uma surpresa, mas o tamanho do endividamento da companhia assustou o mercado – e os consumidores.

A empresa enfrentava dificuldades societárias e financeiras desde sua origem e negociou por um bom tempo um acordo entre credores, acionistas e sócios, sem sucesso.

Acabou por acumular uma dívida de R$ 65,4 bilhões, a maior da história do país, sendo que R$ 51 bilhões do montante são com bancos e investidores de dentro e fora do Brasil.

A decisão pela recuperação judicial veio depois do fracasso nas negociações privadas com os credores internacionais, que possuem 62% da dívida financeira.

“A empresa admite que, além de tudo que pode gerar de caixa com a operação, queimaria mais R$ 7 bilhões para honrar o pagamento de juros de dívida, sem considerar o vencimento de principal”, afirma a corretora Planner em relatório de análise.

Ainda assim, a grandeza da companhia é incontestável. A Oi ocupa hoje 34,4% do mercado de telefonia fixa e 18,6% de telefonia móvel do país, com uma base de 47,8 milhões de usuários de celulares, 5,7 milhões de acessos à internet banda larga e 2,2 milhões de clientes corporativos.

A Anatel disse que não vai interferir no processo, porque acredita que a companhia tem condições de voltar a operar no azul. O governo afirmou que não deve ajudar financeiramente.

Se a possível proposta do bilionário egípcio será um novo ponto de refúgio para a Oi, só o futuro dirá. Mas para isso a intenção não pode ficar apenas no campo das ideias, como foi com os refugiados em setembro.