Presidente dá ultimado aos EUA: prender ou deportar clérigo opositor.
A tentativa de golpe na Turquia durou menos de 24, deixou 265 mortos, entre eles 161 civis, e deu ao presidente Recep Tayyip Erdogan a oportunidade de um contragolpe que ele já lançou, iniciando uma feroz caçada aos opositores do governo.
A incerteza durou toda a madrugada. A multidão atendeu ao apelo do presidente Recep Tayyip Erdogan numa mensagem pelo celular e tomou as ruas da capital, Ancara, e de Istambul. E nem os ataques de helicópteros afugentaram os partidários do governo.
O sobrevoo dos caças era constante, como conta Fernanda, brasileira que mora há um ano na Turquia. “Os tiros, eu ouvia à distância, não estavam perto aqui de onde eu estava. Mas o caças estavam sobrevoando. Impossível não ouvir. De certa forma foi perto. As janelas tremeram”.
Explosões podiam ser ouvidas a todo momento. Uma destruiu parte do comando da polícia.
Os prédios do Parlamento e do palácio do governo foram atacados enquanto os aeroportos estavam fechados.
Já era de madrugada, quando o avião com Erdogan pousou em Istambul. O presidente foi recebido com festa por milhares de seguidores para dizer que ainda estava no comando do país.
Ao mesmo tempo, manifestantes cercavam tanques e arrancavam à força os soldados. Em pouco tempo, as pontes que cruzam o Estreito de Bósforo foram liberadas, assim como os aeroportos.
Pela manhã, era possível ver os estragos. Apesar da aparente normalidade, a tensão ainda dominava as ruas de Istambul, como conta o brasileiro Daniel. “E na sexta-feira (15), os protestos estavam correndo. Muitos carros buzinando, muita gente gritando, e a maior parte das pessoas caminhando. Mas na manhã deste sábado (16), realmente a situação já se estabilizou, o transporte público está funcionando, metrô, ônibus, táxi, tudo ok. Muita gente resolveu ficar em casa, não saiu, justamente por causa de risco”.
Enquanto o primeiro-ministro Binaldi Yildirim anunciava o fracasso da tentativa de golpe, começava a enorme caçada aos adversários. Cerca de três mil militares foram presos, entre eles, dois generais de alta patente; 2.700 juízes e promotores também. Eles são acusados de ligação com os golpistas.
Os quatro principais partidos políticos protagonizaram uma cena rara na Turquia: se uniram para condenar o golpe numa sessão de emergência do Parlamento.
Desde sexta-feira (15), o governo turco acusa o clérigo Fetullah Gulen, que vive nos Estados Unidos, de liderar a tentativa de golpe. Neste sábado (16), o primeiro-ministro disse que qualquer país que apoie Gulen não será amigo da Turquia e estará em guerra com o país.
O governo turco também acusou os soldados da base aérea de Incirlik de estarem envolvidos no golpe frustrado. A base é usada pelos Estados Unidos em ataques contra o Estado Islâmico na Síria e no Iraque.
Neste sábado (16), o governo fechou a base aérea de Incirlik, no sul das Turquia, e cortou o fornecimento de energia elétrica; 1.500 americanos vivem no local. O gesto também está sendo visto por analistas na Itália como uma resposta à Otan, a aliança militar do ocidente, da qual a Turquia também faz parte. Erdogan teria considerado que alguns países da Otan não foram tão enfáticos o suficiente ao condenar os golpistas.
No fim do dia, Erdogan fez um discurso para milhares de seguidores em Istambul. Afirmou que a tentativa de golpe foi liderada por uma minoria dentro do Exército.
Disse que a pena de morte, proibida por lei, pode ser discutida no Parlamento. E que o Exército está sob o controle do governo, e não nas mãos de um poder paralelo, numa referência ao clérigo Fetullah Gulen.
E lançou um ultimato – exigiu que o presidente americano, Barack Obama, prenda ou deporte Gulen.