Judoca deixa a seleção brasileira e vira esperança de medalha do Líbano

Nacif Sathler Elias Júnior. A mistura entre Brasil e Líbano fica clara no nome desse capixaba de 27 anos que defenderá o país árabe na Olimpíada do Rio, em agosto. Ex-atleta da seleção brasileira e do Flamengo, o judoca enfrentava grandes dificuldades com a balança e penava para ser titular do Brasil em algumas competições. Foi aí que, em 2013, o bisneto de libaneses decidiu aceitar um convite para se naturalizar, com a chance de continuar vivendo em Vitória, capital do Espírito Santo. Foi o início de um grande salto na carreira do meio-médio (81kg). Em 2014, foi vice-campeão dos Jogos Asiáticos, na Coreia do Sul. Neste ano, foi vice no Campeonato Asiático e ganhou dois ouros em Abertos Continentais para assegurar sua classificação para a Rio 2016 pelo ranking olímpico, com a 20ª posição, mesmo tendo feito poucas competições nos últimos dois anos. Em uma nação sem grande tradição esportiva, Nacif virou astro e é favorito a ser porta-bandeira do Líbano na cerimônia de abertura dos Jogos do Rio, no dia 5 de agosto, no Maracanã. Ter obtido bons resultados no fortíssimo judô da Ásia faz com que o “libanês-brasileiro” confie na chance de ir ao pódio na categoria em que o carioca Victor Penalber, que pode ser seu adversário na Arena Carioca 2, foi bronze no Mundial do ano passado.

– O Líbano me fez a proposta de viajar para rodar o Circuito Mundial e ganhar um salário, podendo ficar no Brasil. Aqui tem muitos atletas bons, e a Confederação Brasileira de Judô (CBJ) não pode mandar todo mundo para viajar. No Líbano, eu sou o cara. Fui eleito duas vezes seguidas o melhor atleta do país entre todos os esportes. Três vezes por ano vou para o Líbano visitar os ministros e falar com as pessoas. Para eles, sou esperança de medalha na Olimpíada, e acredito que eu possa mesmo ir ao pódio – disse Nacif, após participar do treino da seleção brasileira masculina, em Pindamonhangaba, no interior de São Paulo.

A fama obtida com o vice-campeonato asiático em 2014 e neste ano fez com que a popularidade de Nacif crescesse bastante no Líbano. O convite para ser porta-bandeira da delegação, segundo ele, foi algo natural.

– Me perguntaram se eu gostaria de ser o porta-bandeira e eu falei que sim. Agora é só esperar a confirmação. Lá eu sou bastante prestigiado, meu reconhecimento é enorme.  Eu conheço todo mundo: os ministros e o chefe de armas.

Mais forte fisicamente do que a média dos judocas de 81kg, Nacif sempre penou para chegar ao limite de peso dos meio-médios. Ele representou o Brasil no Mundial de 2009, na Holanda, quando perdeu na terceira luta, mas chegou a ser excluído de outra edição por não chegar ao peso. Por conta disso, a CBJ o aconselhou a subir para o peso-médio (até 90kg). Mesmo não tendo que lutar tanto contra a balança, o atleta viu seus resultados piorarem com o quimono da seleção brasileira e ainda acabou tendo que deixar o Flamengo, quando o clube carioca deu fim ao seu time de judô, no início de 2013. Ter passado a defender o Líbano veio em ótima hora e ainda fez com que ele voltasse para a sua antiga categoria.

– Eu tive que subir de categoria. Aí eu subi para o 90kg, por conta da CBJ, mas eu queria ficar no 81kg e precisava de mais liberdade. Houve uma desavença. Estou com 88kg neste momento, mas quando volto para a dieta eu fico no peso. Hoje, estou bastante profissional. Perco peso tranquilamente, nada que afete o meu rendimento. Agradeço a Deus por ter me naturalizado libanês.

Com o amigo Victor Penalber sendo o representante brasileiro no peso-meio-médio no Rio, Nacif deseja enfrentar o carioca só na decisão do ouro, para que ninguém atrapalhe os planos do outro na competição mais importante da carreira de ambos. Victor é só elogios ao adversário que luta pelo Líbano.

– Ele faz uma força desgraçada na luta. Foi vice-campeão asiático. Espero enfrentar o Nacif só em uma disputa por medalha de ouro. Que ele seja sorteado para ficar em outro lado da chave. Será melhor para mim. Ele defende o Líbano, mas é brasileiro. Se ele for bem, é bom para o judô brasileiro também – comentou Penalber.

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Defender as cores do Líbano faz com que Nacif Elias tenha que seguir algumas imposições políticas da nação árabe, como o fato dele ter a obrigação de se negar a enfrentar um judoca israelense. Caso a chave de uma competição determine que ele encare um atleta de Israel, o capixaba não entra no tatame, perdendo por WO. Ele diz que isso aconteceu no Grand Prix de Samsun, na Turquia, há dois anos. Nacif não concordou, mas aceitou.

– Toda vez que estou lá, o clima parece de paz. A guerra é mais na fronteira. Eu não vejo violência. Tem os conflitos na Síria e com Israel. Se tiver que enfrentar um atleta de Israel, eu não posso entrar. Já deixei de lutar uma vez, foi na Turquia. Eu me pesei e tinha que enfrentar um israelense, não pude ir para a luta e perdi. Mas eu respeito. É tradição deles, eu tenho que respeitar, paciência. Fiquei chateado, mas faz parte do trabalho. Eu recebo ordens e as cumpro.