Os exercícios militares da Otan, Sea Breeze 2016, no mar Negro, começaram no dia 11 de julho, após a cúpula em Varsóvia em que participaram delegações de 28 países do Pacto Militar do Atlântico Norte.
Os exercícios, em que participam 25 navios e cerca de 1.700 militares da Bulgária, Grécia, Romênia, Turquia e EUA, vão durar uma semana e constituem mais um passo na escalada de confrontação com a Rússia. Não terá sido mera coincidência o fato de o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, ter anunciado na cúpula de Varsóvia que a decisão de ampliar a presença aérea e marítima da Aliança na região do mar Negro será tomada no outono.
A imprensa russa, por seu turno, informou que Moscou pode responder com a instalação no mar Báltico e no mar Negro de dois novos radares Podsólnukh(Girassol), com capacidade de monitorizar a zona costeira até cerca de 200 milhas marítimas, ao mesmo tempo que o Kremlin reiterava que “é absurdo falar de uma ameaça por parte da Rússia”, deixando claro que o reforço da presença da Otan no mar Negro obrigará o país a tomar medidas para garantir a segurança nacional.
A “questão russa” está no centro da estratégia dos EUA para a Otan, mas está longe de gerar unanimidade entre os parceiros de organização, assinalou no fim de semana o jornal norte-americano The New York Times.
De acordo com aquele periódico, países como a Alemanha, França e Itália estão renitentes quer quanto a sanções econômicas a Moscou quer no respeitante a iniciativas militares ditas para “conter” a Rússia.
O primeiro-ministro italiano Matteo Renzi participou recentemente do Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo, o presidente da França François Hollande admitiu a necessidade de cooperação com a Rússia e o ministro das Relações Exteriores da Alemanha Frank-Walter Steinmeier criticou os exercícios militares da Otan na Polônia, registra o The New York Times.
De acordo com o ex-representante permanente dos EUA na Otan, Nicholas Burns, a “questão russa” pode levar a divisões entre os países da Aliança. “Fiquei impressionado com tanta divergência dentro da liderança europeia”, disse, citado pela Sputnik.
A cooperação entre Atenas e Moscou em áreas como energia, turismo e defesa, e designadamente o projeto conjunto para produzir Kalachnikov na Grécia, é outra pedra no sapato da Otan, que pode “prejudicar seriamente a capacidade da Aliança para apresentar uma frente unida para impedir uma possível agressão russa”, como disse uma fonte da Aliança ao The Telegraph.
Estas contradições, a que se junta o recente reatamento das relações comerciais entre a Rússia e a Turquia, outro membro da Aliança Atlântica, não impediram no entanto Jens Stoltenberg de declarar na sexta-feira, 8, que a Otan instalará quatro batalhões nos países Bálticos e na Polônia em 2017, com tropas dos EUA, Canadá, Alemanha e Reino Unido, e garantir que as relações com a Rússia continuam a ser baseadas na “defesa” e no “diálogo”.
Nos últimos anos, a Otan construiu diversas novas bases militares e reforçou as suas tropas na Europa de Leste. Segundo Jens Stoltenberg, a organização está agora mais forte do que nunca desde a Guerra Fria.