Ahmad tem sete anos e escapou da guerra e do caos na Síria. Agora em segurança, espera se tornar uma estrela internacional do futebol e assiste com atenção aos campeonatos europeus para aprender novas técnicas.
“Meu jogador favorito é o Cristiano Ronaldo porque ele é o melhor e o mais rápido”, contou Ahmad à Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), referindo-se ao mais famoso jogador de futebol português. “Eu também sou rápido. Meu sonho é conhecer o Ronaldo algum dia e jogar futebol com ele”.
Ahmad tem sete anos e escapou da guerra e do caos na Síria. Agora em segurança, espera se tornar uma estrela internacional do futebol e assiste com atenção aos campeonatos europeus para aprender novas técnicas.
Um grande sorriso estampa o rosto de Ahmad Alzaher. Ele olha fixamente para o pai, Mohammed, que está ajoelhado no campo de futebol, com uma garrafa d’água equilibrada na cabeça. Ahmad, então, dá alguns passos para trás e corre para chutar a bola com o pé esquerdo, almejando a garrafa.
Algumas curiosas garotas alemãs, de fora do campo, comentam e se arrepiam de emoção enquanto a bola viaja a toda velocidade pelo ar. E logo começam a aplaudir quando a bola derruba a garrafa. Ahmad corre para festejar, colocando seus braços sobre a cabeça em um salto com giros, no estilo de Cristiano Ronaldo.
O malabarismo impecável é apenas um dos muitos que pai e filho praticam juntos todas as tardes depois da escola. Ambos têm grandes esperanças de que algum dia seu árduo trabalho será recompensado e que as habilidades de Ahmad chamem a atenção de um grande clube europeu.
“Meu jogador favorito é o Cristiano Ronaldo porque ele é o melhor e o mais rápido”, contou Ahmad à Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), referindo-se ao mais famoso jogador de futebol português. “Eu também sou rápido. Meu sonho é conhecer o Ronaldo algum dia e jogar futebol com ele”.
“Nós dois esperamos ansiosos a Eurocopa 2016”, disse o pai. “Torcemos para a Alemanha. Será difícil para eles, mas temos fé. (…) O futebol une as pessoas. Durante noventa minutos, todos estão juntos, sem distinção de ideologia, religião ou cultura”.
“A Euro 2016 é como a Copa do Mundo”, acrescentou Ahmad. “É igualmente importante e tão legal quanto, é fantástica”.
Foram os grandes sonhos de Ahmad que incentivaram o pai, um ex-goleiro, a deixar para trás sua casa em Jableh, cidade costeira ao noroeste da Síria. “Deixei o país pelo Ahmad”, disse Mahammed, de 39 anos.
“Quando eclodiu a guerra, me dei conta de que não havia um futuro para ele na Síria. Não sabia quanto tempo duraria o conflito. Ele estava a caminho de se tornar um atleta e não sobraria nada para ele. Pensei que, pelo grande talento que tem, ele precisa de treinamento adequado”.
Mohammed disse que seu mundo mudou quando Ahmad nasceu, e que o talento de seu pequeno filho era visível desde o momento que conseguiu ficar de pé.
“Ahmad começou a jogar futebol logo que começou a caminhar”, disse. “Notei desde o início que amava futebol e que se sentia em casa dentro do campo. Não era como os outros meninos. Ele queria chutar a bola e fazer gols, ele simplesmente jogava por prazer.”
Um dia, quando Ahmad tinha apenas quatro anos, Mohammed o levou a um jogo da liga síria. Para surpresa da multidão, Ahmad foi ao campo e começou a mostrar seu talento. “Todos estavam tão entusiasmados e impressionados com ele”, lembra seu pai. “Os melhores jogadores sírios esperavam um futuro maravilhoso para ele internacionalmente”.
Mas à medida que os anos passaram e seu país seguia em guerra, Mohammed começou a perder as esperanças que as coisas voltariam a normalidade. “Vejo as notícias da Síria e meu coração sofre”, disse. “Se Deus quiser, esta guerra terminará e a Síria progredirá. Todos os sírios são meus irmãos e irmãs. Rezo para que toda a situação melhore em meu país”.
Em outubro do ano passado, Mohammed, sua esposa, Afaf, e sua irmã, Zahra, decidiram levar Ahmad ao Líbano e então para a Turquia. Ele pediu dinheiro emprestado para pagar os contrabandistas, mas nem todo o dinheiro do mundo os levaria com segurança à Grécia. O barco em que estavam falhou no meio do caminho, no Mar Egeu.
“Estávamos na metade do caminho quando o motor estragou”, lembrou Mohammed. “Tentamos seguir, mas a uma distância curta da costa grega, começamos a afundar. Por um momento, pensei que tudo estava perdido. Mas havia outro barco na nossa frente, também cheio de refugiados. Eles voltaram para nos ajudar e conseguimos chegar à terra firme. Ainda não consigo acreditar que nos salvamos”.
Na Grécia, a família seguiu a rota dos Balcãs, contornando Hungria, Eslovênia e Áustria. Em novembro, a polícia os encontrou enquanto cruzavam a pé a fronteira da Alemanha e então foram levados de ônibus até um albergue em Potsdam, cidade ao sudoeste de Berlim.
“Não sabíamos para onde estávamos indo. Só sabíamos que era um lugar melhor”, disse Mohammed. “Depois de uma viagem como esta, foi incrível chegar ao destino. Estava tão aliviado. Quase não dormi por 15 dias, ficava acordado enquanto os outros dormiam para manter a guarda, e cuidar de todos. Sempre temi por meu filho. Quando chegamos, me dei conta: agora estou seguro, minha família está segura”.
Ahmad e sua família são agora refugiados na Alemanha. Em janeiro, mudaram-se para um apartamento de três quartos, alugado em Potsdam. O garoto está se ajustando muito bem à nova realidade, vai bem na escola e joga na equipe de futebol de meninos da sua idade.
A vida é mais difícil para os adultos. Mohammed está aprendendo alemão, enquanto Zahra, a tia de Ahmad, 29 anos, está se capacitando outra vez, com a esperança de continuar seu trabalho anterior como professora.
“Na Alemanha, temos uma vida nova”, disse Mohammed. “Devemos nos acostumar a isso e temos que reconstruir nossas vidas desde o começo”.
“Estou aprendendo rápido a falar alemão, mas os adultos são lentos”, acrescentou Ahmad. “Às vezes minha família me diz em árabe e eu respondo em alemão e eles não me entendem. Eu gosto da escola”.
Ahmad mostrou-se indiferente à ausência de outras crianças sírias no colégio, enquanto suas habilidades futebolísticas já lhe transformaram em um menino popular.
“Todas as crianças na minha sala de aula são minhas amigas”, disse. “Tudo é novo aqui. Penso em ir à Síria. Para ver minha casa, para jogar com meus amigos e depois voltar à Alemanha. Desejo que as crianças na Síria estejam felizes e seguras. Jogo futebol todos os dias e isso me faz feliz”.