Governo monitora cem suspeitos de simpatia com o terror no Brasil

O governo brasileiro monitora, a poucos dias do início dos Jogos Olímpicos do Rio, que serão abertos em 5 de agosto, cerca de cem pessoas suspeitas de serem simpatizantes de terrorismo no país.

Essa lista foi elaborada pelas autoridades a partir do comportamento desses cidadãos —brasileiros e estrangeiros que vivem em território nacional— na internet, conforme a Folha apurou com integrantes do alto escalão das forças responsáveis pelo combate ao risco de terror durante a Olimpíada.

A grande maioria dos rastreados, aproximadamente 90%, entrou na mira por adotar conduta suspeita ao entrar mais de duas vezes nos portais ou peças de propaganda com conteúdo de exaltação a grupos extremistas.

As forças de segurança não identificaram, no entanto, que esse grupo tenha feito insinuações ou se manifestado favoravelmente a organizações terroristas.

Os outros 10% vêm chamando mais a atenção do serviço de inteligência. Trata-se de pessoas que, ao navegar por essas páginas, escreveram mensagens mais elaboradas, inclusive elogiando iniciativas extremistas, ou compartilharam conteúdos relacionados ao terror.

As autoridades de segurança destacam que, ao menos por enquanto, nenhum dos cem monitorados é visto até agora como ameaça iminente, já que não foram encontrados elementos que comprovem uma ligação direta com terroristas, como diálogos ou repasses de recursos a grupos extremistas.

Todos os suspeitos serão monitorados pelo menos até o fim dos Jogos Olímpicos, no dia 21 de agosto.

Três dessas pessoas foram identificadas pelo serviço de inteligência depois que um delegado da Polícia Federal os flagrou falando em árabe sobre bombas e explosões em um bar em São Paulo.

Sem domínio do idioma, ele soube do conteúdo da conversa porque o dono do estabelecimento era árabe e traduziu para o policial o que estava ouvindo.

Até o momento, o caso considerado mais delicado é o do físico franco-argelino e ex-professor da UFRJ (Universidade Federal Fluminense) Adlène Hicheur, deportado pelo governo brasileiro na última sexta-feira (15).

Ele foi investigado e condenado por “associação com criminosos com vistas a planejar um atentado terrorista” na França em 2009, segundo a revista “Época” publicou em janeiro deste ano. Hichuer cumpriu dois anos e sete meses de prisão naquele país e em 2013 aterrissou no Brasil para trabalhar como professor-visitante na UFRJ.

VIOLÊNCIA

Nos últimos dias, a preocupação com terrorismo nos Jogos cresceu, principalmente em razão do atentado em Nice, na França. O ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Sérgio Etchegoyen, chegou a dizer que a preocupação com o tema havia “subido de patamar”.

Na quarta (20), o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, baixou o tom e negou que a preocupação com terrorismo tenha aumentado.

Em entrevista à Folha, publicada nesta quarta, ele disse que a criminalidade preocupa mais que o terrorismo.

“Não só as nossas agências como as internacionais colocam a probabilidade no nível mais baixo. Agora, existe possibilidade no mundo inteiro, não seria no Brasil que não existiria. A probabilidade é mínima, mas estamos tomando todos os cuidados e todas as medidas”, disse.

AJUDA DO FBI E DA CIA

Desde 2015, agentes de segurança brasileiros contam com o apoio do FBI (a polícia federal americana) e da CIA (o serviço de inteligência dos Estados Unidos) para prevenir a ocorrência de atos terroristas durante os Jogos Olímpicos do Rio.

Agentes do Mossad (serviço secreto de Israel) também têm colaborado com as autoridades do Brasil, que sentem a necessidade de apoio internacional em uma área, a do combate ao terrorismo, que nunca havia sido prioridade no país.

Em busca de qualquer rastro de ameaça, o grupo de combate ao terrorismo tem vasculhado redes sociais, informações de inteligência estrangeiras e registros de imigração para detectar possíveis militantes de grupos terroristas.

Além da ajuda direta de FBI, CIA e Mossad, o Brasil também conta com um centro policial colaborativo, em que agentes de mais de 50 países ajudam a monitorar a segurança dos Jogos, e um centro antiterrorismo internacional, com especialistas de países como EUA, Grã-Bretanha, França e Espanha.