Frente Al-Nusra na Síria anuncia ruptura com Al-Qaeda

Grupo também comunicou mudança de nome para Frente Fateh al-Sham.
Em primeira aparição, líder disse que decisão foi para ‘proteger revolução’.

O chefe da Frente Al-Nusra, Abu Mohammad al-Jolani, anunciou que seu grupo está rompendo seus vínculos com a rede Al-Qaeda, durante uma aparição inédita em uma gravação difundida nesta quinta-feira (28) pelo canal de televisão Al Jazeera.

“Agradecemos aos comandos da Al-Qaeda por terem entendido a necessidade de romper nossos vínculos”, indicou o chefe do segundo principal grupo jihadista atuante na Síria, destacando que esta decisão “visa a proteger a revolução síria”.

Ele também anunciou que seu grupo “já não operava sob o nome de Frente Al-Nusra”, referindo-se à “criação de uma nova entidade, a Frente Fateh al-Sham (Conquista da Síria em árabe)”.

Igualmente disse que o grupo “não terá qualquer vínculo com partidos estrangeiros”.

Esta foi a primeira vez que al-Jolani exibiu o rosto. O homem, de aparência jovem, vestia trajes militares, com uma barba negra, sorridente e um turbante na cabeça.

‘Garantia de futuro’
Mais cedo, a rede Al-Qaeda montou o palco para tal ruptura, que já se anunciava em meio a especulações que circulavam na internet há dias.

“Nós apelamos ao comando da Frente al-Nusra a avançar (no anúncio da ruptura) para proteger os interesses do Islã e dos muçulmanos e para proteger o povo da Jihad na Síria”, anunciou o xeque Ahmad Hassan Abu el-Kheir em uma gravação de áudio divulgada na internet.

“Pedimos que adotem as medidas necessárias”, continuou, referindo-se ao possível anúncio desta ruptura.

“Nossos irmãos que conduzem a Jihad na Síria tornaram-se uma força que não pode ser subestimada”, acrescentou, em referência à Frente Al-Nusra, o maior grupo extremista na Síria depois de seu grande rival, a organização ultrarradical Estado Islâmico (EI).

Nos últimos dias, especulações circularam na internet com simpatizantes dos jihadistas e observadores evocando a possibilidade do anúncio de que Al-Nusra cortaria os laços com a rede fundada por Osama bin Laden.

Classificada como grupo “terrorista” por Washington, a Frente Al-Nusra tem sido alvo frequente dos ataques da coalizão liderada por Washington, mas em menor escala em comparação com EI.

O grupo tem sido atacado principalmente desde setembro de 2015 pela Rússia, aliada do regime sírio de Bashar Al-Assad.

Mas Washington acusa Moscou de visar igualmente durante estes ataques os rebeldes moderados, o que os russos negam.

A divulgação da gravação de áudio da Al-Qaeda acontece uma semana depois de um acordo entre os chefes da diplomacia russa e americana, Sergei Lavrov e John Kerry, sobre a luta conjunta contra a Frente Al-Nusra e o EI.

O especialista em grupos jihadistas Charles Lister tuítou esta semana que o objetivo da Al-Nusra era se proteger uma possível campanha russo-americana, de “se enraizar ainda mais na revolução síria e garantir o seu futuro a longo prazo”.

Aliada dos rebeldes
A Frente Al-Nusra surgiu oficialmente em janeiro de 2012, dez meses após o início da revolta pacífica contra o regime de Bashar al-Assad, reprimida de forma sangrenta, que se transformou em um conflito devastador.

Em abril de 2013, a Frente Al-Nusra jurou lealdade ao líder da Al-Qaeda Ayman al-Zawahiri. Em novembro do mesmo ano, este último proclamou esta organização como a única filial da Al-Qaeda na Síria.

A grande diferença entre a Frente Al-Nusra e o Estado Islâmico é o fato de que a primeira se aliou a grupos rebeldes que lutam contra as tropas de Assad e construiu um apoio popular, enquanto o EI combate qualquer um que não se submeter as suas ordens.

Com a Al-Qaeda na Península Arábica (Aqap) e a Al-Qaeda no Magrebe (Aqmi), a Frente Al-Nusra é também um dos mais poderosos membros da rede e que tem sido ofuscada nos últimos anos pelo avanço do EI.

Al-Nusra é aliada dos rebeldes na província de Aleppo (norte), mas especialmente na de Idleb (noroeste), sob a coalizão Fatah al-Jaich (Exército da Conquista).

O grupo não controla nenhum território exclusivamente, mas domina Idleb, de onde expulsou o exército do regime em 2015 com os insurgentes.

Formada principalmente por combatentes sírios, ao contrário do EI, a Frente Al-Nusra, no entanto, difere da rebelião pelo seu desejo de um emirado islâmico na Síria.

Muitos rebeldes sírios se uniram às suas fileiras, atraídos por seus recursos financeiros e a sua melhor organização.